O desatino de Icarus

O infinito carrega
Pelas asas de cera
Entre o céu que se eleva
Um desejo que cega
E que mata em vão.

Esta estrela me atrai,
Me seduz e me trai.
É tão forte e tão bela
Que assim como ela
Outras mais já não são.

Perdoe-me se vôo
Bem mais alto que o céu.
Desculpe-me se chego
A esta luz que me leva
Mais rápido ao chão.

Minhas asas derretem
Pelo amor que me aquece.
Já não quero outra coisa,
Nem quero outra vida
Sem esta razão.

Se despenco e me perco
Não lamento em morrer.
Só lamento a beleza
Que a vida me rouba
E jamais volto a ver.

Rosa dos ventos

Sou a Rosa sem espinho
Dos caminhos, das estradas.
Sou a alma do destino
E o vento das
encruzilhadas.
Sou a santa dos perdidos
Dos que não sabem aonde ir
E que a perder não têm mais nada.

Sou a Rosa em quatro ventos,
Sou a brisa do verão,
Sou a voz no fio do tempo
E a cantiga dos sem chão,
Dos que
caminham sem um rumo,
Dos que se perdem pelo
mundo
E que não sabem aonde vão.

Sobre chuvas e lembranças

Chove mais.
E quantas chuvas mil
hei de escrever a mais
nestas linhas fundas
do meu coração anil?

E quantas chuvas mais
em cinco versos morrem,
se cada vez que chove escorre
da caneta o fino breu;
suspiro de um tempo tão vazio?

Quando eu era jovem
andei chorando sob a chuva,
andei rezando pela cura
de um coração azul que teve frio
e enegreceu.

Foi uma água densa e pura
que pelo rosto me escorreu.
A partir de então
não soube mais o que era chuva,
não soube mais o que era Eu.

Refluxo

Há metafísica bastante em não pensar em nada.
Que penso eu do mundo?

Sei lá o que penso do mundo.
Se eu adoecesse pensaria nisso.
(Alberto Caeiro)

A estrela vai até a altura da luz
Depois some no espaço.
E eu que aqui estou doente
Observo tudo e aos poucos
Me desfaço.

Sobre a mesa velha e manca
A voz do
segundeiro cansa.
Quanto tempo demorei a entender
Que há coisas nesta vida
Que o pensamento não alcança.

Doente sou diferente do que sou
Quando estou sã, como o Poeta.
Penso o contrário do que penso
E não me importo se estou certa.

A noite pelo socorro dos doentes
Já não parece tão
exata!
Sei que embora esteja enferma
Desconhecer a vida não me mata.


O passo

Quem desdenha a pouca ceia
Com certeza quer comprar,
Quer comer, quer render
E em todo o prato chafurdar.

Sempre fui azarada!

Na janela sempre aberta
Uma pedrinha eu atirei
Ali estava, em mira reta,
O meu amor que então matei.

Quem sou eu

Minha foto
Sou o verbo: o estado, o tempo e a ação contínua.

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