Foi quebrado.

Foi quebrado,
Meu colar de finas pérolas
Foi quebrado.


Não espero teu abraço,
De bom grado,
Nem que tomes minha dor.


Era duro,
Era pérola polida,
Símbolo cálido desta fina flor.


Não te culpaste,
Nem te vi desesperado.
Enquanto as contas rolavam
Tu ficaste ali parado.


Tu querias glória,
Eu, um momento de amor.
Mas não houve nada,
O que houve foi só dor.

Poetar

Minha poesia é minha filosofia.
No entanto nunca quis ser poeta.
É através dela que penso a vida
Com a alma amadora completa.


Que por ela eu possa reinventar
A vida, a alegria, a dor e o amor.
Que meu verso leia meu leitor
E que com ele sempre possa estar.


Meus poemas não me pertencem,
Eles são mesmo de qualquer um.
De forma que o poeta não deve
Valer mais do que poema algum.


Os versos que nunca termino
Permanecem na minha gaveta.
Pacientes esperam um destino
Antes que deles me esqueça.


E da vida que ainda me resta,
Quando a morte vier me encontrar,
Se a fortuna me quiser coroar
Vão dizer que fui bom poeta.

Inspiração

Ai, que lá vai o verso fugindo pelado!
Pega ele, mas não judia, coitado.

Tenho uma musa do avesso.
Na verdade é um Guri muito travesso
Que me aparece sempre sem hora nem endereço.

Vem sorrindo baixinho para ver
A correria que faço
Atrás de lápis e papel para escrever.

Recordação

Num castelo de pedra esbarrei
quando um dia esqueci o caminho.

Vi as luzes, o samba das velas
e os santos crivados de espinhos.

Recordou-me a presença de um Deus
Que me fez sentir tão pequenina.

E sobe as luzes dos altos vitrôs
Eu me sinto de novo menina.

Condição

Se a luz soprasse
E as flores terminassem,
Se a canção murchasse
E o vento apagasse
Tu porias meu nome na boca?


Se as vozes dançassem
E o silêncio voasse,
Se a bela calasse
E os pássaros falassem
Tu porias meu nome na boca?


É assim que nestes últimos anos
O mundo anda para mim:
Suave, singelo e escangalhado.

Ao poeta que não era velho, recém nasceu.

Na aurora da minha vida,
Duas décadas de pranto,
Mário nasceu no meu coração.

Ah! Quintana Velho,
Talvez me dissesses
que velho mesmo
São os trapos.

Se soubesses quantas risadas
Me fizestes dar
Ao simples olho passar
Pelos vincos dos teus poemas!

Ria tanto nesta noite de verão
Que mal vi o tempo passar
E até me deu indigestão.

Onde lá se viu poesia
Mais doce e espirituosa
Que a tua letra manhosa
Das rimas fugia em agonia?
Eu também moro
nessa rua dos cata-ventos
E te leio com toda a minha
Sina de poeta.

Três pedaços de canção quebrada

Numa noite serena e gelada
Eu passei três cafés,
Porque a noite seguia velada
E eu continuava de pé.

Minha graça ficava parada
Numa gota daquilo que é.
Tinha ali três verdades quebradas,
Quando vi já não tinha mais fé.

Pus ali na toalha manchada
Três retalhos de um sonho qualquer.
Foi assim: costurava calada
A esperança que ainda me quer.

O canto das vozes caladas

Se me perguntarem do que vivo
vou dizer que coleciono histórias,
vidas e estradas,
não apenas palavras caídas,
mas resquícios de sortes lançadas.

Falo por aqueles que não têm voz
ou só sabem calar.
Alguns andam perdidos nas noites,
outros esquecidos em qualquer lugar.

Simpatia


Para amor perdido

Ascenda um toco de vela

Que o negrinho do pastoreio ajuda.


Para tristeza que não passa

Escreva um verso em dois tempos

Que a mazela não demora já se muda.


Se o humor te escapa

Dê três pulos a São Longuinho.

Mas saiba já que este é o santo dos bobinhos.


Se te perdesses

Reflete a vinda, aperta o passo

Que em dois toques encontras teu caminho.


Se a questão é beleza

Invista na sua cultura, leitura.

Se não é melhor matar no peito.


Mas se o teu problema é dinheiro,

Me desculpe caro amigo,

Não há reza que dê jeito.

Quem sou eu

Minha foto
Sou o verbo: o estado, o tempo e a ação contínua.

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