Quem conta um conto...

Quantas contas já deixei pelo caminho!
E cada uma conta um pouco sobre mim.

Pois cada um que no caminho as encontra
Versa um conto meio louco sobre mim.

Cada qual pensa que sabe o que não sabe
E vão somando cada conta até o fim,

Contando tudo e um pouco mais do que não cabe
Construindo-me um colar pesado assim.

Pesa tanto que já ando encurvada,
Contando os frisos do solado que caminho,

Juntando as contas em um fio de puro nada
E rindo junto do falar que não confio.

Poeta da noite

Para meu amigo Everton

Quem poderia misturar melhor
num caldeirão de pensamentos
três pás de vento,
Três tons de mal,
dois mais de um pessimismo seco
e uma veia tensa de um romantismo negro
que faz nascer daí um texto:
pergaminho sempre vivo e surreal.

Cabo das tormentas

(cemitério de navios)




Eu quero que a água que trouxe

Leve de volta.

Pois desde sempre recolhi na beira

Os pedaços de tudo que a maré

Carregava enjoada e revolta.


Eu nasci na cidade das águas

Onde mar tem trazido os destroços de si.

Recolhi cada qual como o nada,

Cada um como um pouco de mim.

Mas não pude evitar a chegada.


Quando formavam de todo um navio

Colocavam-se em pé sobre a água,

E partindo sem dó nem parada

Só deixavam comigo um vazio

E uma voz em tormenta velada.


Que leve de volta

E na volta não morra tão calma.

Pois que eu que embalei a jornada

Já não tenho mais força nem alma

Para juntar os pedaços de mim.

Ando

Não perguntes como eu vou
porque não tenho resposta.
E cada dia que passa
é menos um deles.

Caminhar pela rua sozinha
traz uma sensação estranha
que a muito tempo
meu ser não sentia.

É um passo em liberdade
mas um passo com saudade
de outras vozes, outras vidas
que ficaram pelos bancos da cidade.

Meus Deus!
Aonde vão esses meus passos?
Que mulher perdida
esse meu tempo fez de mim!

Quem sou eu

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Sou o verbo: o estado, o tempo e a ação contínua.

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