A Fernando Pessoa

à Juliana Votto
Se "pensar é estar doente dos olhos"
Já digo que refiro ser cega.
E nisso te acompanho, Velho Poeta.

Primeiro soneto

Preciso declarar um sentimento,
Meio colorido, meio sonolento,
Que há anos trago comigo,
Mas sempre muito escondido.


Amo aquele que o coração divide comigo,
Amo o homem que sempre me acalma,
Que me faz sorrir e me desarma,
Que me traz consigo em plena alma.


Não vou pôr aqui um sumário,
Nem cair na ilusão de que as coisas
Apenas se explicam pelo seu contrário.


É simples. Apenas amar
É vir sempre a dividir contigo
O divino Dom de Pensar.

Pequena reflexão

Há ansiedade tamanha
ao meu redor,
muito mais dentro de mim,
muito do que vi aqui,
muito o que já sei de cor.
Meus Deus!
Por que me fizestes tão sensível assim?

Pouco sã

Ó céu tão sublime,

Testemunha dos meus erros,

Me segura, me socorre

E me redime

Desses tão viciosos desapegos;

Dessa luz tempestuosa que me oprime,

Dessa voz desafiadora me liberta,

Que essa dor silenciosa do meu crime

Faz as portas dos desejos sempre abertas.

Crime e castigo*

Erros meus, má sorte.
Pela sede de um amor
eu fui julgada e castigada,
entregue aos males, redobrada
da vaidade ao dissabor.


Pois que tudo era errado e seduzia
a própria morte, a minha vez.
E quanto mais me contentava de alegria
mais amava e me perdia,
porque era forte e me desfez.


E foi de tão secreto descoberto:
suor, saliva e sentimento.
E fui jogada num deserto
à triste sorte, ao frio do vento.
Me fiz calar... Mas não lamento.


* o título faz alusão ao romance de Fiódor Dostoiévski.

verso bastardo

Sou mulher da vida
Porque não vivo da morte.
Canto as coisas vivas
E entrego tudo à própria sorte.

Poetizo tudo ao meu redor,
Da natureza tempestiva
À criatura sempre viva;
Tudo o que já sei de cor.

O que está dentro
Está fora
E o que está fora já não demora
Reflete logo aqui dentro.

Sei apenas o que sei,
Do além mais eu desconheço.
Quero mais cantar a vida
Do princípio ao recomeço.

E se o som da dura queda
O meu cantar vier calar,
Deixarei minh'arte ir-se embora
Para onde mais quiser morar.

Quem sou eu

Minha foto
Sou o verbo: o estado, o tempo e a ação contínua.

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