Já digo que refiro ser cega.
E nisso te acompanho, Velho Poeta.
Preciso declarar um sentimento,
Meio colorido, meio sonolento,
Que há anos trago comigo,
Mas sempre muito escondido.
Amo aquele que o coração divide comigo,
Amo o homem que sempre me acalma,
Que me faz sorrir e me desarma,
Que me traz consigo em plena alma.
Nem cair na ilusão de que as coisas
Apenas se explicam pelo seu contrário.
É simples. Apenas amar
É vir sempre a dividir contigo
O divino Dom de Pensar.
Há ansiedade tamanha
ao meu redor,
muito mais dentro de mim,
muito do que vi aqui,
muito o que já sei de cor.
Meus Deus!
Por que me fizestes tão sensível assim?
Ó céu tão sublime,
Testemunha dos meus erros,
Me segura, me socorre
E me redime
Desses tão viciosos desapegos;
Dessa luz tempestuosa que me oprime,
Dessa voz desafiadora me liberta,
Que essa dor silenciosa do meu crime
Faz as portas dos desejos sempre abertas.
Erros meus, má sorte.
Pela sede de um amor
eu fui julgada e castigada,
entregue aos males, redobrada
da vaidade ao dissabor.
Pois que tudo era errado e seduzia
a própria morte, a minha vez.
E quanto mais me contentava de alegria
mais amava e me perdia,
porque era forte e me desfez.
E foi de tão secreto descoberto:
suor, saliva e sentimento.
E fui jogada num deserto
à triste sorte, ao frio do vento.
Me fiz calar... Mas não lamento.
* o título faz alusão ao romance de Fiódor Dostoiévski.
Sou mulher da vida
Porque não vivo da morte.
Canto as coisas vivas
E entrego tudo à própria sorte.
Poetizo tudo ao meu redor,
Da natureza tempestiva
À criatura sempre viva;
Tudo o que já sei de cor.
O que está dentro
Está fora
E o que está fora já não demora
Reflete logo aqui dentro.
Sei apenas o que sei,
Do além mais eu desconheço.
Quero mais cantar a vida
Do princípio ao recomeço.
E se o som da dura queda
O meu cantar vier calar,
Deixarei minh'arte ir-se embora
Para onde mais quiser morar.
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