Diz sem dizer,
Fala sem falar.
Pois sobre a garganta muda
se acumula um peso,
Uma pesada mão invisível
Que lhe faz até o soluço calar.
Nos mais profundos olhos
Marejados de cinza
Lampejam raios de prata,
Navegam barcos de tinta
Que o silêncio, de todo,
Já não os pode amparar.
Não é o medo
O que pinga entre os dedos.
É o acumulo do tempo,
A razão partida no meio,
O brotar d’uma ruga suave
Que a idade não pode explicar.
E nem a ideia falha
Se basta naquele momento
Em que a tempestade faz curva,
Em que a ventania faz vento
E que a alma frágil se parte
E se revolta toda por dentro
Espelho mágico
Postado por
Silvana Bronze
on 16 de set. de 2009
Tu és a sombra de uma folha
Que morreu no meu jardim,
Um reflexo falso de outra coisa
Que tão somente o nome
Já morreu dentro de mim.
De tristeza em semelhança
Vou contando os velhos traços
E juntando cada caco,
E contando cada posso,
Para formar o espelho mágico.
Que estranheza que me causa!
Ver um cravo do jardim
Refletido assim sem aço
Bem diante assim de mim.
Mas garanto que isso passa!
Que morreu no meu jardim,
Um reflexo falso de outra coisa
Que tão somente o nome
Já morreu dentro de mim.
De tristeza em semelhança
Vou contando os velhos traços
E juntando cada caco,
E contando cada posso,
Para formar o espelho mágico.
Que estranheza que me causa!
Ver um cravo do jardim
Refletido assim sem aço
Bem diante assim de mim.
Mas garanto que isso passa!
(...)
Postado por
Silvana Bronze
on 14 de set. de 2009
Meu coração é vagabundo
como o velho vento sem parada,
e caminha cego pelo do mundo,
e volta toda noite pela mesma estrada.
Toda o dia eu me mudo
e vôo longe arrancando o que não tem raiz,
e levo em mim qualquer caco sem fundo,
e trago em volta a luz de um céu de anis.
como o velho vento sem parada,
e caminha cego pelo do mundo,
e volta toda noite pela mesma estrada.
Toda o dia eu me mudo
e vôo longe arrancando o que não tem raiz,
e levo em mim qualquer caco sem fundo,
e trago em volta a luz de um céu de anis.
Pequena crítica social
Postado por
Silvana Bronze
on 13 de set. de 2009
O pombaredo pousa na calçada
E estala o bico pelo chão
E espera à pena pela fome,
Espera o milho pela mão.
Não fosse o velho ali parado
A escutar o som do pombaredo,
Não haveria ali a culpa,
Nem haveria ali o medo.
Enquanto uns se alimentam
Um outro espera pela mão.
E livremente observa sob o banco
O que se espalha livre pelo chão.
Se é possível haver comparação
Já não sei quem não é livre,
Se é quem voa leve pelo céu
Ou se é quem vive mudo pelo chão.
E estala o bico pelo chão
E espera à pena pela fome,
Espera o milho pela mão.
Não fosse o velho ali parado
A escutar o som do pombaredo,
Não haveria ali a culpa,
Nem haveria ali o medo.
Enquanto uns se alimentam
Um outro espera pela mão.
E livremente observa sob o banco
O que se espalha livre pelo chão.
Se é possível haver comparação
Já não sei quem não é livre,
Se é quem voa leve pelo céu
Ou se é quem vive mudo pelo chão.
(...)
Postado por
Silvana Bronze
on 11 de set. de 2009
O meu corpo ainda treme
da friagem que peguei durante o dia.
E entre meus lábios cortados se espremem
outras vontades, outros gostos de agonia.
Basta que veja um desses corações antigos
para que meu coração que é sempre ativo
em violeta volte a se inflamar.
Basta que os passos que ressoam sobre o piso
conforme avançam em desatino
Venham soprar minh'alma à congelar.
da friagem que peguei durante o dia.
E entre meus lábios cortados se espremem
outras vontades, outros gostos de agonia.
Basta que veja um desses corações antigos
para que meu coração que é sempre ativo
em violeta volte a se inflamar.
Basta que os passos que ressoam sobre o piso
conforme avançam em desatino
Venham soprar minh'alma à congelar.
Desenhista
Postado por
Silvana Bronze
on 3 de set. de 2009
à Juliana Castro
Sobre a folha quase branca
Corre um traço em fino tom.
E vai e volta e forma um rosto
Sustentado pela mão.
A luz passeia pelo rosto
E faz contorno pela sombra.
E vai e volta e se contempla:
Quer ver melhor a posição.
Quem pinta assim a folha
Sabe bem quando acabar:
No traço leve em mão suave,
Faz um arco para aparar
A escuridão do seu grafite
Ali no canto...
Onde a sombra vem se desmanchar.
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