Dois é par.

Não te parece estranho
Que um verso tenha dois poetas
E uma música dois autores?
E que então a vida só se completa
Quando vives dois amores?
-
Não te parece simples
Que tudo tenha ao menos dois lados?
Que nada é igual
Mas que tudo se completa?
-
E se de alguma maneira
O amor te escapa,
Não te esqueças que
O indivisível é duplo
Porque nem o Nada
pode existir sozinho.

Piton

Numa mistura de silabas vulgares
Vou contar-te minhas aflições.
Ando perdida nas noites e lugares,
Longe de quaisquer conciliações.
-
Vivo num ambiente abafado,
Com cheiro de cigarros velhos.
Vendo meu corpo mal tratado
Aos que a mim parecem apenas ecos.
-
O corpo sofre no paraíso,
A mente regozija no inferno.
Imagino-me ardendo e caindo
No meio de um sofrimento eterno.
-
Nas malícias da vida fui fundo,
Vendida para o que não sabia.
Impedia de sair deste mundo,
Que nem Dante compreenderia.
-
Se pudesse pedir-te um desejo,
Pediria uma vida vazia.
Quisera cuspir meu veneno,
Escarrar sobre a terra vadia.
-
Hoje sofro sozinha e calada.
Dia-dia o nojo me inunda.
Sobre os bancos da vida sentada
Submersa na vida imunda.

O ar do mar

Cai a noite cinza de inverno sobre o mar .

De pé sobre as pedras,
Como um farol radiante,
Uma mulher de mármore
Espera por seu amante.
-
Os olhos fixos no mar.
Há apenas dois sons no ar:
Ondas batem nas pedras
E gaivotas se convidam a dançar.
-
Da mesma forma
Seu coração a convida a esperar.
Na esperança de que o amante
Não vá se demorar.
-
Se o cabelo bate ás costas
É porque já começa a ventar.
Se o coração lhe aperta
É porque o tempo começa contar.
-
O tambor soa e a flauta toca.
Vem a escuridão,
Mas o amante não.
-
Então os olhos se fecham
Os punhos seram.
E sob o doce som do mar.
Ela deixa sua alma voar.
-
Voa com as gaivotas
Sob o céu que não é azul.
Voa, voa para lugar nenhum.
E deixa o vento lhe guiar.
-
Plana leve sobre o mar.
Mas quando se dá conta,
Ainda está parada no mesmo lugar.
-
A alma gela
E o coração pára
Mas ela continua a esperar,
Na esperança inútil
De que um dia
Ele venha lhe buscar.
A lança e o escudo
Quem é Este Homem?
Este que ao lado do corpo
segura firme lança e escudo.
Que para conquistar Babilônia
não destrói ninhos nem muros.
Este Homem que ataca defende.
Com o olhar firme adiante,
não subestima a si nem o oponente.
Quem é Este Homem?
Que se mantém pensando,
Que estuda o inimigo e o compreende.
O Homem que escolhe o campo de guerra.
Que estuda o tempo, preserva a memória.
Que é sensato, não erra,
tão pouco subestima a História.
Este homem como parece até qui
Não é Alexandre.
Este homem é a Cura de Deus
E Babilônia sou Eu.

A Bailarina

Ó boneca de mármore,
pequena bailarina
que dança e me encanta
sem ter medo de errar.

Tu não temes teu tablado.
Eu que te observo aqui sozinho e calado,
vejo majestosa pretensão
desenhar-se em teu solado.

Delicada alma branca.
Se desafias o ar
com graciosos pulinhos dança,
assim me pareces flutuar.

Sentimento infanto-juvenil

Se te ofereço perdão
É porque quero destilar as mágoas do meu coração.

Se ele pesa
É porque cada mágoa representa uma pedra.

Se não te esqueci
Não é porque ainda gosto de ti

Agora quero ser egoísta
Perdoa os meus erros
Que eu perdôo os teus
E deixa tudo por isso mesmo.

Quem sou eu

Minha foto
Sou o verbo: o estado, o tempo e a ação contínua.

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